Rokia Traoré - M'bifo
Uma excelente revelação.
Água fresca... para ideias com sede...
A afronta dos milhões do colar à pobreza!
Não é por nada, mas não tive pena nenhuma.
Espero que não tenham apanhado o "ladrão"!
via às vezes (des)organizo-me em palavras
Publicada por ana b. às 17:14 3 comentários
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Publicada por Carlos Edu Bernardes às 15:23 0 comentários
Transcrevendo o artigo de opinião de Mário Crespo, no Jornal de Notícias de hoje:
Vivi a maior parte da minha vida em África. Em Moçambique mesmo quando o professor Adriano Moreira acabou com legislação racial ficou no quotidiano colonial uma prática segregacionista com a mesma força dos letreiros Whites Only na África do Sul. Lourenço Marques era um mundo psicótico inundado de meninos-criados e improváveis patrões e patroas. Visto a esta distância era um horroroso parque temático de incongruências. Os pequeninos serviçais (os Pikinin, como os colonos de origem sul africana ainda hoje chamam aos meninos negros) tinham um magnífico aspecto, vestidos com umas fardinhas de caqui ou sarja compostas por uns calções, uma espécie de bibe e um avental, tudo a condizer. Sempre descalços. Serviam à mesa e iam às compras e lavavam a loiça e lavavam a roupa e engomavam e depois, chegava a noite e os meninos fardados desapareciam nas dependências em pequenos quartos raramente com cama (só gostavam de cobertor), quase sempre sem luz eléctrica (bastava-lhes uma improvisada lamparina com petróleo e uma torcida de trapos). Eram crianças, quando muito adolescentes. Por eles temos que pedir desculpas.
Joseph Conrad, no seu Coração das Trevas, descreve o horror da colonização imperial no Congo no facto de se poder punir negros com sovas monumentais e deixá-los a esvair-se numa qualquer clareira de plantação, porque depois, diz Conrad, como que por magia eles, os espancados moribundos, fundiam-se na floresta e desapareciam. África tem uma imensa tolerância para o crime. Deixa sempre poucos ou nenhuns vestígios. Mesmo nos nossos espíritos. A negação daquilo que vimos vai acompanhar toda a geração que viu. Havia, nas colónias portuguesas uma aceitação fatalista de quem mandava e de quem acolhia ordens, fossem elas de ir à escola buscar os meninos, à mercearia as compras. Quem plantava e colhia o algodão o café ou a cana-de-açúcar. Quem descarregava barcos no porto. Quem frequentava os clubes de elites e quem dormia no bairro de caniço sem esgotos nem abastecimento de água. E todos aceitavam. Como se houvesse uma hierarquia natural que tinha que ser respeitada. Como as chuvas no Verão e a seca no Inverno e as tonalidades da pele. Porquê fazer um acto de contrição público e pedir desculpas? Porque nos tornávamos numa gente melhor como povo. Tendo África, como disse Conrad, a capacidade de conseguir fazer crescer uma cortina de verdura luxuriante tornando as barbaridades parte integrante da paisagem, a nossa própria libertação acarreta a obrigação de desbastar a folhagem à catanada e revelar o que está por baixo no terreiro da plantação. Se "os criados lá de casa sempre foram bem tratados" é preciso questionar esse "direito" que o estatuto colonial nos dava de ter serviçais. Sempre descartáveis e sempre sem apelido. Só tinham nomes próprios quando nos satisfazia a consonância com as nossas línguas. Aceitávamos os Albertos os Antónios os Alfredos. Aos outros que viessem com nomes Changane ou Ronga chamávamos-lhes Mufana, Mainato ou, genericamente, rapaz.
A massa colonizadora não estava consciente da identidade humana de quem nos rodeava na terra que ocupámos. A repulsa com que os ideais igualitários foram recebidos nas colónias foi o sustento das políticas nacionalistas que nos acabaram por vitimizar a todos, locais e expatriados.
Infelizmente as utopias revolucionárias de Neto e Machel não acabaram com a desumanidade e as trevas. Ter criados no Maputo é tão frequente agora como o foi em Lourenço Marques. Morrer nos arredores de Luanda e deixar que um cadáver se funda na paisagem é tão banal hoje como nas descrições de Conrad no princípio do século passado. Os horrores relatados hoje por Rafael Marques nos campos diamantíferos de Angola são idênticos às denúncias do bispo de Nampula e do padre Hastings nos anos setenta em Moçambique. A chacina de opositores da Frelimo, fechados às dezenas numa prisão em Montepuez onde sufocaram até à morte, rivaliza com o que aconteceu em Wyryamu. É como se houvesse uma propensão na espécie humana para perpetuar este estado de opressão consolidando cada vez mais a desumanização.
Podíamos começar por pedir desculpa e talvez parássemos com este nosso quotidiano de exploração de trabalho ucraniano ou brasileiro ou cabo-verdiano em casas de alterne ou nos condomínios privados (não há grande diferença). Não devemos tolerar com indiferença que o terrível apagar das consciência que Conrad nos relevou continue aqui na "Metrópole" neste novo século em que as hordas de serviçais descartáveis vindos de S. Tomé ou Bucareste, chegada a noite desaparecem em pequenos quartos na Cova da Moura, deixando-nos a cidade livre. E nós, com a tradição que mantivemos intacta, continuamos a não notar o que fazemos. Pedir desculpa pelo que fizemos era um passo para por fim ao que fazemos e nas palavras de Luther King no seu I Have a Dream, depois de as pedir, poderíamos dizer muito alto "Aleluia, finalmente estamos livres".
Mário Crespo escreve no JN, semanalmente, às segundas-feiras
Publicada por ana b. às 20:55 2 comentários
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Publicada por O Toke É Esse às 19:50 0 comentários
No entanto o Afrikya vem de longe, com a dupla Luzía Fanconny e António dos Santos, o continente africano é prescrutado sonoramente através das suas musicalidades, dos seus pensadores, sempre a passo com a premência da actualidade que um continente desta dimensão não deixa de urgir.
Carregue aqui para visitar o novo blogue e ouvir a emissão em excelente "streaming" mpeg, ou para fazer o "download" em mp3 de excelente qualidade.
Publicada por O Toke É Esse às 07:06 1 comentários
Etiquetas: Fançonny, lac, Luanda Antena Comercial, Música, rádio
O Instituto Camões / Centro Cultural Português e o Instituto Angolano de Cinema, Audiovisual e Multimedia (IACAM) têm a honra de convidar V. Exa a assistir ao programa da Retrospectiva do cineasta português Jorge António, entre 21 e 25 de Janeiro no Auditório Pepetela, Centro Cultural Português de Luanda.
Jorge António com Tony Amado - Rodagem de "Kuduro, fogo no museke"
- ENTRADA LIVRE -
Ler também aqui.Publicada por ana b. às 00:07 0 comentários
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Publicada por Carlos Edu Bernardes às 20:59 0 comentários
Este foi o de 2007, a Orquestra de Viena, dirigida pelo prestigiado maestro Zubin Mehta, com a célebre marcha Radetzky, de Johann Strauss:
Este o de 2008, dirigido por Georges Prêtre:
Publicada por ana b. às 23:57 0 comentários
GED
Publicada por CORVO às 23:31 0 comentários
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Feliz Ano Novo aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas. Aos cínicos repletos de palavras sem raízes no coração.
Feliz Ano Novo às bordadeiras de emoções, que gastam a vida desfiando intrigas e agulhando a boa fama alheia. Aos cépticos desprovidos de horizontes e aos que debruçam sobre a própria solidão para contemplar abismos. Aos ressuscitadores de desgraças, aos que se escondem em seus sapatos e aos idólatras que cultuam os poderosos.
Feliz Ano Novo aos que asfixiam a criança de si e aos que se fantasiam de palhaço para camuflar tristezas. Aos que gastam a vida contando dinheiro, sempre em débito com o amor. Aos que acumulam bens e desperdiçam virtudes, ajuntam poder e semeiam mágoas, galgam a fama e pisam em sentimentos.
Feliz Ano Novo aos sonegadores de esperança e aos que crêem apenas nos valores da Bolsa. Aos mancos de bondade, cegos de utopia, ébrios de ambições e medrosos perante a ousadia de viver. Aos que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.
Feliz Ano Novo aos que se agasalham com gelos e jamais dão ouvidos à sabedoria do fogo.
Aos que alugam a própria dignidade e se revestem da ideologia do consenso. Aos que escondem montanhas debaixo da cama, congelam estrelas no bolso e torcem o arco-íris até sangrar.
Feliz Ano Novo aos que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional. Aos que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e, como Carolina, vêem o mundo passar pela janela. Aos que proferem palavras furtivas, segredam mentiras, sonham com elefantes de papel e tentam fugir da própria sombra.
Feliz Ano Novo aos voluntários da servidão, aos que amam amar amores e desamores alheios e nunca experimentam o êxtase de uma paixão inefável. Aos crentes desprovidos de fé, aos políticos vazios de senso cívico, aos democratas que engraxam botas e dormem ao som de cometas.
Feliz Ano Novo aos fazem de seus dias tijolos de catedrais escuras, navegam em pingo d'água e jamais perdem tempo com uma criança. Aos que cimentam árvores, fazem pontaria em orquídeas e pintam o verde de marrom. Aos que jamais escutam o silêncio, vociferam palavras sem nexo e tratam seus semelhantes como os motoristas reclamam dos buracos na estrada.
Feliz Ano Novo aos que cercam suas almas com arame farpado, abrem com foices seus caminhos na vida e, ainda assim, não sabem que rumo tomar. Aos que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de seus rios.
Feliz Ano Novo aos que cavalgam em hipocampos de feltros grávidos de dinamites, multiplicam teorias para subtrair a prática e escondem o horizonte no fundo da gaveta.
Feliz Ano Novo aos que se julgam imortais, incensam a própria imagem e tocam címbalos aos cifrões que servem de prisão aos que estão terminantemente proibidos de tomar em mãos vazias de dinheiro, um prato de comida.
Feliz Ano Novo aos infelizes que fazem de suas vidas Lua minguante e se vestem com o escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado. Novos lhes sejam o ano e a vida, revertidos e revestidos de ensolaradas esperanças.
Frei Betto
Publicada por ana b. às 19:04 2 comentários
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