Água fresca... para ideias com sede...

quarta-feira, maio 21

Rokia Traoré - M'bifo



Uma excelente revelação.

quinta-feira, maio 15

Rapper roubado em Luanda :D



A afronta dos milhões do colar à pobreza!
Não é por nada, mas não tive pena nenhuma.
Espero que não tenham apanhado o "ladrão"!

via às vezes (des)organizo-me em palavras

sexta-feira, abril 25

Porque hoje é


PARA NUNCA ESQUECER

segunda-feira, março 31

Hold on - Tom Waits

domingo, março 23

UMA PALAVRA

Estava eu no rio quando uma palavra boiou perto da sombra de uma árvore. Era uma palavra longínqua e tinha um cheiro de coisa que estava estragada e era viscosa e pesava. Era uma palavra que pelo jeito nada entendia de bichos porque por onde passava ao seu redor era apenas água que se sujava e pronto. De todas as palavras que vi e de todas as pronúncias que pulavam no vilarejo essa palavra eu poderia dizer que era ruim de falar e tinha um semblante ambicioso como se suas letras conspirassem macular o dicionário. Talvez ela tivesse certeza de que um dia perambularia num rio e se espalharia pelos ares e que não seria entendida por um pequeno e roto pescador e sendo abusada e propagativa faria com que fosse pronunciada em todos os lugares. Como quem quer nada e como alguém que sempre respeitou as poucas palavras que conhece eu a segurei pelos lados e tentei clarear suas sílabas oleosas de substantivo. Mas nesse momento com espanto percebi que ela não ficaria limpa e sim contaminaria os panos da minha canoa e os corpos dos meus peixes sadios de natureza. Sem saber o que fazer vi que ela escapulia de novo pelo rio e logo outras do mesmo álbum de sinônimos vieram acompanhá-la. Agora de cada cinco palavras ditas nos arredores e nos açudes três são 'poluição' e as outras duas pelo visto e sentido nem multiplicadas por mil acabarão com ela não.

segunda-feira, fevereiro 18

Brutalidade da descolonização merece pedido de desculpas


Transcrevendo o artigo de opinião de Mário Crespo, no Jornal de Notícias de hoje:




Vivi a maior parte da minha vida em África. Em Moçambique mesmo quando o professor Adriano Moreira acabou com legislação racial ficou no quotidiano colonial uma prática segregacionista com a mesma força dos letreiros Whites Only na África do Sul. Lourenço Marques era um mundo psicótico inundado de meninos-criados e improváveis patrões e patroas. Visto a esta distância era um horroroso parque temático de incongruências. Os pequeninos serviçais (os Pikinin, como os colonos de origem sul africana ainda hoje chamam aos meninos negros) tinham um magnífico aspecto, vestidos com umas fardinhas de caqui ou sarja compostas por uns calções, uma espécie de bibe e um avental, tudo a condizer. Sempre descalços. Serviam à mesa e iam às compras e lavavam a loiça e lavavam a roupa e engomavam e depois, chegava a noite e os meninos fardados desapareciam nas dependências em pequenos quartos raramente com cama (só gostavam de cobertor), quase sempre sem luz eléctrica (bastava-lhes uma improvisada lamparina com petróleo e uma torcida de trapos). Eram crianças, quando muito adolescentes. Por eles temos que pedir desculpas.

Joseph Conrad, no seu Coração das Trevas, descreve o horror da colonização imperial no Congo no facto de se poder punir negros com sovas monumentais e deixá-los a esvair-se numa qualquer clareira de plantação, porque depois, diz Conrad, como que por magia eles, os espancados moribundos, fundiam-se na floresta e desapareciam. África tem uma imensa tolerância para o crime. Deixa sempre poucos ou nenhuns vestígios. Mesmo nos nossos espíritos. A negação daquilo que vimos vai acompanhar toda a geração que viu. Havia, nas colónias portuguesas uma aceitação fatalista de quem mandava e de quem acolhia ordens, fossem elas de ir à escola buscar os meninos, à mercearia as compras. Quem plantava e colhia o algodão o café ou a cana-de-açúcar. Quem descarregava barcos no porto. Quem frequentava os clubes de elites e quem dormia no bairro de caniço sem esgotos nem abastecimento de água. E todos aceitavam. Como se houvesse uma hierarquia natural que tinha que ser respeitada. Como as chuvas no Verão e a seca no Inverno e as tonalidades da pele. Porquê fazer um acto de contrição público e pedir desculpas? Porque nos tornávamos numa gente melhor como povo. Tendo África, como disse Conrad, a capacidade de conseguir fazer crescer uma cortina de verdura luxuriante tornando as barbaridades parte integrante da paisagem, a nossa própria libertação acarreta a obrigação de desbastar a folhagem à catanada e revelar o que está por baixo no terreiro da plantação. Se "os criados lá de casa sempre foram bem tratados" é preciso questionar esse "direito" que o estatuto colonial nos dava de ter serviçais. Sempre descartáveis e sempre sem apelido. Só tinham nomes próprios quando nos satisfazia a consonância com as nossas línguas. Aceitávamos os Albertos os Antónios os Alfredos. Aos outros que viessem com nomes Changane ou Ronga chamávamos-lhes Mufana, Mainato ou, genericamente, rapaz.

A massa colonizadora não estava consciente da identidade humana de quem nos rodeava na terra que ocupámos. A repulsa com que os ideais igualitários foram recebidos nas colónias foi o sustento das políticas nacionalistas que nos acabaram por vitimizar a todos, locais e expatriados.

Infelizmente as utopias revolucionárias de Neto e Machel não acabaram com a desumanidade e as trevas. Ter criados no Maputo é tão frequente agora como o foi em Lourenço Marques. Morrer nos arredores de Luanda e deixar que um cadáver se funda na paisagem é tão banal hoje como nas descrições de Conrad no princípio do século passado. Os horrores relatados hoje por Rafael Marques nos campos diamantíferos de Angola são idênticos às denúncias do bispo de Nampula e do padre Hastings nos anos setenta em Moçambique. A chacina de opositores da Frelimo, fechados às dezenas numa prisão em Montepuez onde sufocaram até à morte, rivaliza com o que aconteceu em Wyryamu. É como se houvesse uma propensão na espécie humana para perpetuar este estado de opressão consolidando cada vez mais a desumanização.

Podíamos começar por pedir desculpa e talvez parássemos com este nosso quotidiano de exploração de trabalho ucraniano ou brasileiro ou cabo-verdiano em casas de alterne ou nos condomínios privados (não há grande diferença). Não devemos tolerar com indiferença que o terrível apagar das consciência que Conrad nos relevou continue aqui na "Metrópole" neste novo século em que as hordas de serviçais descartáveis vindos de S. Tomé ou Bucareste, chegada a noite desaparecem em pequenos quartos na Cova da Moura, deixando-nos a cidade livre. E nós, com a tradição que mantivemos intacta, continuamos a não notar o que fazemos. Pedir desculpa pelo que fizemos era um passo para por fim ao que fazemos e nas palavras de Luther King no seu I Have a Dream, depois de as pedir, poderíamos dizer muito alto "Aleluia, finalmente estamos livres".

Mário Crespo escreve no JN, semanalmente, às segundas-feiras

domingo, fevereiro 3

Músicas do Carnaval Luanda 2008




O Carnaval de Luanda de 2006 foi magnificamente fotografado pelo grande Tonspi.
Neste espírito de folia, começámos nós também aqui n'O-Moringue a bailar e dançar o Carnaval com as músicas do Carnaval de Luanda 2008, num exclusivo em primeira mão na internet, proporcionado pelo nosso canal musical Menha Ma Zumbi, uma selecção musical muito especial feita com carinho para os nossos queridos visitantes.


Clique aqui para copiar este reprodutor para a sua página de internet.

domingo, janeiro 27

Afrikya - Encruzilhadas de um continente

Todos os domingos, das 09 horas até às 10 horas o Afrikya é emitido em Luanda nos 95.5 em FM, o espaço em modulação de frequência da LAC (Luanda Antena Comercial).




No entanto o Afrikya vem de longe, com a dupla Luzía Fanconny e António dos Santos, o continente africano é prescrutado sonoramente através das suas musicalidades, dos seus pensadores, sempre a passo com a premência da actualidade que um continente desta dimensão não deixa de urgir.



Carregue aqui para visitar o novo blogue e ouvir a emissão em excelente "streaming" mpeg, ou para fazer o "download" em mp3 de excelente qualidade.





Carregue aqui para copiar o código deste "player" e inserí-lo no seu blogue ou página de internet.

segunda-feira, janeiro 21

Retrospectiva dedicada a Jorge António, em Luanda

O Instituto Camões / Centro Cultural Português e o Instituto Angolano de Cinema, Audiovisual e Multimedia (IACAM) têm a honra de convidar V. Exa a assistir ao programa da Retrospectiva do cineasta português Jorge António, entre 21 e 25 de Janeiro no Auditório Pepetela, Centro Cultural Português de Luanda.

Jorge António com Tony Amado - Rodagem de "Kuduro, fogo no museke"

PROGRAMA
  • Segunda, dia 21, 18.30 - A Utopia do Padre Himalaya (2004) - Ciência

  • Terca, dia 22, 18.30 - O Miradouro da Lua (1993) - Ficção

  • Quarta, dia 23, 18.30 - Angola. Historias da musica popular (2005) - Música

  • Quinta, dia 24, 18.30 - Kuduro, fogo no museke (2007) - Música

  • Sexta, dia 25, 18.30 - Outras Frases (2003) - Dança

- ENTRADA LIVRE -

Ler também aqui.
Via Às vezes (des)organizo-me em palavras...

sexta-feira, janeiro 11

TRAJE DE GALA

Carlos Edu Bernardes

Visto uma gravata de espelho
Para que você se veja inteira
Dentro do meu peito









quarta-feira, janeiro 2

Concertos de ano novo em Viena

Este foi o de 2007, a Orquestra de Viena, dirigida pelo prestigiado maestro Zubin Mehta, com a célebre marcha Radetzky, de Johann Strauss:


Este o de 2008, dirigido por Georges Prêtre:

O MEU PAÍS

Um amigo meu, diz que o que faz mal não é o que se come entre o Natal e o Ano Novo. O que faz verdadeiramente mal é o que se come entre o Ano Novo e o Natal.
Vem isto a propósito das tão faladas, badaladas, mediatizadas operações de Natal e Ano Novo, para diminuir a mortalidade nas estradas.
No fim, com um ar jovial ou pesaroso vêm dizer-nos que morreu menos ou mais gente ( um ou dois), nas estradas durante este período. Os dados desde o início que estão inquinados, pois dos feridos graves ninguém mais ouvirá falar, mas não é disso que aqui se trata.
Vão ao nosso dinheiro, gastam milhões a preparar as ditas operações, dizem umas quantas coisas na televisão, durante meia dúzia de dias andam por aí e, o resto do ano é o que se vê.
Aquilo que deveria ser o trabalho normal, diário, disciplinador dos condutores em Portugal, torna-se motivo pontual para apresentar serviço.
É como se todo o povo português que trabalha, decidisse fazer os mínimos durante todo o ano e, nestas alturas vir mostrar mais um pouco de serviço.
A única coisa que eu ainda não entendo, tem a ver com o facto de ninguém protestar pelo actual estado de coisas. Há comissões de utentes para tudo, até para pagar menos portagens. Mas, ninguém se incomoda com este desaforo.
Não se preocupem, que para o ano há mais. E se este ano morreram dezasseis, verão que no próximo ano, ou são quinze ou são dezassete.

GED


terça-feira, janeiro 1

Ano Novo

Feliz Ano Novo aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas. Aos cínicos repletos de palavras sem raízes no coração.

Feliz Ano Novo às bordadeiras de emoções, que gastam a vida desfiando intrigas e agulhando a boa fama alheia. Aos cépticos desprovidos de horizontes e aos que debruçam sobre a própria solidão para contemplar abismos. Aos ressuscitadores de desgraças, aos que se escondem em seus sapatos e aos idólatras que cultuam os poderosos.

Feliz Ano Novo aos que asfixiam a criança de si e aos que se fantasiam de palhaço para camuflar tristezas. Aos que gastam a vida contando dinheiro, sempre em débito com o amor. Aos que acumulam bens e desperdiçam virtudes, ajuntam poder e semeiam mágoas, galgam a fama e pisam em sentimentos.

Feliz Ano Novo aos sonegadores de esperança e aos que crêem apenas nos valores da Bolsa. Aos mancos de bondade, cegos de utopia, ébrios de ambições e medrosos perante a ousadia de viver. Aos que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.

Feliz Ano Novo aos que se agasalham com gelos e jamais dão ouvidos à sabedoria do fogo.

Aos que alugam a própria dignidade e se revestem da ideologia do consenso. Aos que escondem montanhas debaixo da cama, congelam estrelas no bolso e torcem o arco-íris até sangrar.

Feliz Ano Novo aos que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional. Aos que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e, como Carolina, vêem o mundo passar pela janela. Aos que proferem palavras furtivas, segredam mentiras, sonham com elefantes de papel e tentam fugir da própria sombra.

Feliz Ano Novo aos voluntários da servidão, aos que amam amar amores e desamores alheios e nunca experimentam o êxtase de uma paixão inefável. Aos crentes desprovidos de fé, aos políticos vazios de senso cívico, aos democratas que engraxam botas e dormem ao som de cometas.

Feliz Ano Novo aos fazem de seus dias tijolos de catedrais escuras, navegam em pingo d'água e jamais perdem tempo com uma criança. Aos que cimentam árvores, fazem pontaria em orquídeas e pintam o verde de marrom. Aos que jamais escutam o silêncio, vociferam palavras sem nexo e tratam seus semelhantes como os motoristas reclamam dos buracos na estrada.

Feliz Ano Novo aos que cercam suas almas com arame farpado, abrem com foices seus caminhos na vida e, ainda assim, não sabem que rumo tomar. Aos que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de seus rios.

Feliz Ano Novo aos que cavalgam em hipocampos de feltros grávidos de dinamites, multiplicam teorias para subtrair a prática e escondem o horizonte no fundo da gaveta.

Feliz Ano Novo aos que se julgam imortais, incensam a própria imagem e tocam címbalos aos cifrões que servem de prisão aos que estão terminantemente proibidos de tomar em mãos vazias de dinheiro, um prato de comida.

Feliz Ano Novo aos infelizes que fazem de suas vidas Lua minguante e se vestem com o escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado. Novos lhes sejam o ano e a vida, revertidos e revestidos de ensolaradas esperanças.

Frei Betto

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