Água fresca... para ideias com sede...

quarta-feira, dezembro 19

Boas Festas








A todos os amigos e leitores deste blog desejamos Boas Festas de Natal e um Feliz Ano Novo.

terça-feira, dezembro 4







KUDURO, FOGO NO MUSEKE

Um documentário do realizador Jorge António

Com Dog Murras, Tony Amado, SeBem, Fofandó, Puto Prata, Noite & Dia
Portugal / Angola, 2007 – 52 minutos





Kuduro, Fogo no Museke
é a 2ª parte de uma trilogia que o autor dedica à musica angolana, iniciada em 2005 com Angola – Histórias da música popular.
A partir das questões: O que é o Kuduro? Porquê este nome? Porquê tanta polémica?, Jorge António oferece-nos um retrato social e cultural de uma nova geração, através de um género musical que ultrapassou fronteiras e se tornou já um fenómeno internacional.

Dia 6 (Quinta) - Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, Lisboa, 21.30
Dia 7 (Sexta) - Cinema Passos Manuel, Porto, 23.00
Dia 9 (Domingo) - Auditorio Vila do Conde, 21.30

segunda-feira, dezembro 3

Micaela Reis de parabéns!!! 2º lugar no Miss Mundo








A angolana Micaela Reis classificou-se em segundo lugar no concurso de beleza feminina Miss Mundo que decorreu sábado passado, dia 1 de Dezembro, na ilha de Hainan, situada na parte meridional da China.

Na etapa final da disputa a jovem chinesa de 23 anos de idade, Zhang Zi Lin superou a angolana Micaela Reis, segunda classificada; a mexicana Carolina Morán, ficou em terceiro;

Micaela Reis chegou a Miss Angola depois de ter ganho o concurso que elegeu a mais bela angolana em Portugal. Nos últimos anos, as candidatas angolanas ocupavam já posições prestigiosas quer nos concursos Miss Mundo quer no Miss Universo.


A edição deste ano contou com a participação das 106 mulheres mais belas do planeta e mais de dois biliões de telespectadores acompanharam em directo a transmissão em duzentos países.

O concurso de Miss Mundo deste ano foi dedicado à luta contra a VIH-Sida, cujo Dia Mundial é comemorado a 1 de Dezembro, e antes da decisão final do júri, as 106 participantes cantaram no palco, entre enormes laços vermelhos, uma canção contra a doença.

Coincidindo com o dia mundial do combate ao VIH-Sida, os organizadores convidaram uma filha de Nelson Mandela, devido ao engajamento da respectiva família no combate contra a pandemia.

A imprensa oficial chinesa havia informado que os hotéis receberam a orientação de colocar preservativos em cada quarto em resposta ao aumento assustador de casos de Sida na capital da China.

De 19 anos de idade, Micaela Reis, tem 1,75 metros, e foi eleita Miss Angola 2007, em acto realizado no Cine Atlântico, em Luanda, em Dezembro de 2006.


Micaela Reis, é também embaixadora da Boa Vontade na luta contra o HIV-Sida.

A sucessora de Micaela Reis será conhecida no próximo dia 14 do corrente.

quinta-feira, novembro 29

Abaixo- assinado contra programa de Jô Soares

Neste post, do passado dia 2, fez-se referência a um programa do Jô Soares.
A Maria Frô deu-nos a conhecer uma petição on-line de repúdio pelo conteúdo da entrevista feita pelo referido apresentador a Rui Morais e Castro.
AQUI encontrará a petição. ASSINE. PARTICIPE. DENUNCIE.

quarta-feira, novembro 28

Soco no estômago - Miss Landmine Angola 2008



Se bem que consiga entender que este concurso possa ser uma forma de sensibilização para o que o manifesto do referido site refere: entre outros, a consciencialização local e global sobre as minas terrestres, um desafio aos complexos de inferioridade e culpa, o questionar o que é um corpo perfeito, a substituição do termo "vítima" pelo de "sobrevivente", ou uma forma de "empowerment" e renovação do orgulho feminino, não pude deixar de sentir esta estratégia como uma agressão - um soco no estômago.

Como prémio, a candidata ganhadora terá uma prótese "norueguesa"!

Não sei se choro!
Não haveria nenhuma outra alternativa para que milhares de "sobreviventes" desse flagelo pudessem ter a oportunidade de "ganhar" uma prótese?

domingo, novembro 25

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher

Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. A data foi designada em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e o Conselho da Europa e serve para debater e da visibilidade às vítimas da violência, quer através de espancamento, violência conjugal, crimes de honra ou casamentos forçados.

Em média, uma mulher em cada três sofre de violência na sua vida, desde espancamentos a relações sexuais impostas ou outras formas de maus-tratos, segundo um relatório do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, divulgado em Outubro do ano passado.

Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, entre 40 a 70 por cento das mulheres assassinadas são-no pelo seu marido ou companheiro. Em França, cada três dias, uma mulher é morta pelo seu companheiro, segundo o governo francês.

No Brasil, uma mulher é espancada em cada 15 segundos, ou seja, 2,1 milhões por ano, segundo a organização não governamental Agenda.

Em África, a violência contra as mulheres passa pelas mutilações genitais, sofridas por 130 milhões de raparigas no mundo, segundo a ONU, mas também por um número recorde de mulheres infectadas pelo vírus da sida por não utilização do preservativo. Na Guiné-Bissau, a violência doméstica, sobretudo contra mulheres e crianças, tem sofrido nos últimos anos um "aumento alarmante".

No Sudeste Asiático, crimes de honra e discriminações são o dia a dia de muitas mulheres. No Afeganistão, os suicídios por imolação de jovens adolescentes obrigadas a casamentos forçados estão a aumentar, estima a ONG alemã Medica Mondiale. Os casamentos forçados representam, naquele país, entre 60 a 80 por cento das uniões, segundo a comissão independente de defesa dos direitos humanos afegã.

A UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres, com sede em Nova Iorque, gastou no ano passado cerca de 3,5 milhões de dólares, mais do dobro do ano anterior, para lutar contra a violência contra mulheres.

Na Europa, a luta assume formas diversas. A Espanha distingue-se por ter reagido ao problema com uma legislação "global", que traz respostas em termos de repressão, prevenção, acompanhamento das vítimas e dos autores da violência.

Este país, juntamente com a Suécia, converteu o carácter repetido da violência conjugal em "infracção penal", que leva à aplicação de uma pena suplementar. Em França, o código penal pune "as violências habituais" mas unicamente para os menores de 15 anos ou as pessoas particularmente vulneráveis.

(Fonte: Jornal Público)

Ver também este artigo.

sexta-feira, novembro 23

Morreu Maurice Béjart (1927-2007)

Nascido a 01 de Janeiro de 1927 em Marselha, Maurice Béjart formou-se em Filosofia mas abandonou os estudos para se consagrar, a conselho médico, à dança.
Em Londres e depois em Paris fez a sua formação clássica e assinou a sua primeira coreografia em 1952, para o filme sueco «Pássaro de fogo», de que foi um dos principais intérpretes.
Inconformado com o que descrevia como uma arte - a do bailado - «separada das massas», Maurice Béjart inova com «Symphonie pour un homme seul» (1955), sobre a música de vanguarda de Pierre Henry e Pierre Schaeffer.
A título de curiosidade, Béjart foi expulso de Portugal pela PIDE em 1968 após um espectáculo da sua companhia, no Coliseu dos Recreios, durante o qual se pronunciou contra a ditadura.

Jorge Donn dança Bolero



Béjart encontra os Queen, The show must go on

terça-feira, novembro 20

Os direitos das crianças - 18 anos


A Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças foi aprovada faz hoje 18 anos, mas quase duas décadas depois cerca de 27 mil menores de cinco anos continuam a morrer diariamente por causas evitáveis, segundo a UNICEF.

No dia em que a Convenção celebra 18 anos, a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apela a todos os governos para que coloquem os direitos da criança no topo das suas agendas nacionais, reforçando os sistemas sociais e os enquadramentos legais, e garantindo orçamentos suficientes para esse efeito e à sociedade em geral para que se empenhe a fim de expandir o movimento pelos direitos das crianças mediante a sensibilização continuada para aquilo que ainda está por fazer.

Por outro lado, a mortalidade infantil diminuiu consideravelmente nas duas últimas décadas, uma vez que em 1990 cerca de 13 milhões de crianças morreram antes de completar os cinco anos de idade, enquanto em 2006 esse número baixou para 9,7 milhões, que, embora considerável, é ainda um número inaceitável, sobretudo porque muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas.

Tornando público o seu relatório sobre a situação das crianças no mundo, a UNICEF destaca que todas as crianças deveriam ter o direito à infância, mas que a pobreza, a violência e outros problemas acabam por tirar esse direito a milhões e que a infância é uma das bases para o futuro do mundo e por isso mesmo não pode ser posto de lado.

Um dos problemas apontados no relatório é o tráfico de crianças. Além disso, muitas crianças são forçadas ao trabalho, que vai do trabalho doméstico à prostituição.

Cerca de 27 000 crianças menores de cinco anos continuam a morrer por dia, sobretudo devido a causas evitáveis; a cada 3.6 segundos uma pessoa morre devido à má nutrição – na maior parte dos casos, uma criança menor de cinco anos; a malária mata uma criança no mundo a cada 30 segundos; mais de 15 milhões de crianças perderam a mãe ou ambos os pais devido à SIDA; em 2006 mais de dois milhões de crianças viviam com VIH ou SIDA, mas apenas 15 por cento das que precisavam de tratamento anti-retroviral o receberam.

Segundo dados do relatório:

  • mais de um bilião de crianças sofrem pelo menos um tipo de privação, o que representa cerca da metade das crianças no mundo vivendo na pobreza;
  • milhões vivem em condições sub-humanas, sem saneamento básico, acesso à educação ou a serviços de saúde.
  • milhares de crianças estão vulneráveis à contaminação pelo vírus HIV.
  • mesmo com a redução da subnutrição de crianças, 28% dos menores de cinco anos nos países em desenvolvimento ainda não se alimentam dentro dos parâmetros mínimos da Organização Mundial da Saúde.
O relatório diz que as crianças são as primeiras vítimas dos conflitos armados. Quando não são mortas ou feridas, ficam órfãs, expostas à violência ou vítimas de pressões psicológicas. Em muitos casos, as crianças acabam por perder as suas casas e vivem em precárias condições, expostas a doenças e à violência.

As estatísticas mostram que, em 2003, 15 milhões de crianças e jovens com menos de 18 anos ficaram órfãos por causa da SIDA, enquanto que, dois anos antes, esse número era de 11,5 milhões. Entre os órfãos, segundo o relatório, oito em cada dez vivem na África sub-sahariana, sendo que a estimativa é que, em 2010, mais de 18 milhões de crianças africanas se tornem órfãs por causa da SIDA.

(Fonte: Lusa e BBC)

segunda-feira, novembro 12

Crónica de Domingo - Angola 32 anos de Independência

Para comemorar os bons ventos destes 32 anos de independência de Angola, empenhei-me em mudar o layout do blog de música angolana MuximAngola, passando a usar três colunas. Um layout convencional e com muito para ir mudando.


:)

O que mais destaco é ter aberto um post. O blogue MuximAngola nunca teve "posts"!

Ao longo de 11 meses preocupei-me em ir disponibilizando arquivos de música angolana para todos os que, espalhados por Angola ou pelo mundo, têm Angola e as músicas angolanas no coração.

Creio convictamente que o factor divulgação para o mundo todo da música angolana via mp3 é sumamente positivo e supera quaisquer eventuais prejuízos em termos de legítimos direitos conexos.

Acredito que quem conheça a música angolana, ainda que via mp3, não perca a oportunidade de comprar os discos originais; incentivo ainda para que se comprem os originais no intuito de ajudar os autores e intérpretes angolanos.

Fico-me por aqui nesta Crónica de Domingo, desejando a todos uma excelente semana, e muita música angolana na vibração do coração.


;*
Toke
Luanda-Angola

domingo, novembro 11

Angola - 32 anos... e o futuro?

Hoje celebram-se 32 anos de independência com os olhos postos no futuro.


Foto de Tonspi

Joaquim Chissano ganha prémio Mo Ibrahim


No passado dia 22 de Outubro, Joaquim Chissano, ex-presidente de Moçambique, que governou entre 1986 e 2005, recebeu a primeira edição do prémio Mo Ibrahim.
Lançado pela Fundação Mo Ibrahim, criada pelo empresário africano com o mesmo nome, o Prémio Mo Ibrahim para o Sucesso na Liderança Africana pretende reconhecer líderes africanos que tenham dado provas de excelência na liderança política.

Tendo deixado a política, Chissano continua, no entanto, a lutar e a defender as causas que sempre defendeu: a fome, os direitos humanos, a boa governação, a paz, a cultura e o desenvolvimento, colocando a sua longa experiência política, diplomática e de vida em prol de Moçambique, de África e da humanidade.

segunda-feira, novembro 5

A Última Ceia na net


Há novidades na net.

Ao ler o Público do dia 3 passado, descobri um site interessante: Haltadefinizione.

Trata-se da digitalização do célebre painel de Leonardo da Vinci, "A Última Ceia", uma pintura (não é um fresco) de cerca de 4,60mX8,80m, que se encontra num dos topos do refeitório dos frades do convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão. Vale a pena ir espreitar.

Ao contrário do que li no jornal, de que são necessários 3 meses de espera para se obter um bilhete para se conseguir ver essa obra maior, quando estive em Milão, não tive dificuldade nenhuma. Bastou para tanto ter feio um "city tour", que me assegurou a entrada num dos mais bem resguardados espaços museológicos.
Tanto os níveis de luz como de humidade são constantemente monitorizados por forma a salvaguardar um "quadro" que se vai deteriorando com o tempo, apesar dos vários restauros a que já foi submetido (o último teve lugar em 1999).
Só são admitidos 25 visitantes de 15 em 15 minutos, para uma experiência que reputo das mais fantásticas. A técnica magistral de Leonardo da Vinci permite-nos ver a cena retratada como se de um filme em 3 dimensões se tratasse.

Mas vale a pena ver como, com todo o cuidado de vários dias, a técnica fotográfica conseguiu pôr a nu todos os pequenos pontos de tinta que estão naquela parede.

Enjoy it!

sexta-feira, novembro 2

Racismo em programa de Jô Soares - RedeGlobo

Já me haviam chamado a atenção para determinado vídeo (da Rede Globo), do programa de Jô Soares. Infelizmente na altura não consegui vê-lo.
Hoje, recebi a transcrição do "desempenho" do entrevistador e de um fulano, de nome Ruy Morais e Castro, em que "comentam a vida sexual de parte das mulheres angolanas" (sic).
Completamente estupefacta com as afirmações aí proferidas, senti-me absolutamente insultada pela manifestação de racismo, deboche, e gozação com que estes dois personagens se referem às mulheres do Sul de Angola.
Depois de ter conseguido ver o tal video (só possível através do browser Explorer), fiquei ainda mais enojada com tamanhas barbaridades.
Mas quem é esse Ruy Morais e Castro? Com que direito se atreve a falar as barbaridades que fala? E quem se julga Jô Soares para emitir comentários tão degradantes sem respeito nenhum por culturas tão ancestrais? Já para não falar das risadas hilariantes de uma plateia ignorante, como é costume desse tipo de programas!

Vergonha, senhores!

Aqui e aqui poderão ler mais sobre o assunto.

Em tempo.
O blog em que aparecia a referência a Ruy Morais e Castro foi apagado. É pena!

quarta-feira, outubro 17

Top Blogs

Hoje, deambulando pela net, encontrei um site obvious - um olhar mais demorado... em que aparecem os top blogs de África, Cabo-Verde e Timor (sic).

Congratulo-me com os lugares ocupados pelos amigos dos blogs: A Minha Sanzala (6º), Às vezes (des)organizo-me em palavras... (10º), Konkomitantemente, Mankakas! (27º), Os Nacionalistas (29º), M'pty Head (40º), Rádio MuximAngola (46º), NEBLINA (49º), O Blog vazio (64º).
O Moringue ocupa o 45º lugar, o que nos orgulha, principalmente por este não ser actualizado tão assiduamente quanto o deveria.


Aproveito esta ocasião para dar a conhecer um novo blog. O BLOG REALMENTE ABERTO.

É só seguir as instruções e cada um pode postar o que quiser e quando quiser.
Os criadores do blog agradecem contribuições.

quinta-feira, setembro 20

Enduring Voices - Projecto

Hoje, ao ler o jornal, um dos temas que me chamou a atenção prende-se com o fenómeno crescente do desaparecimento de línguas minoritárias, mas ainda vivas no nosso planeta e que tem vindo a ser estudado através do Projecto Enduring Voices, apoiado pela National Geographic.

De Moçambique, um investigador já deitou mãos à obra e está a levar a cabo um estudo sobre a língua Nyungwe, falada na região central do país irmão.

E em Angola? O que se passa com as várias línguas nacionais?

sábado, setembro 15

Fome Ltda.



Esta curta-metragem, criada por Viktor Navorsky, que obteve o 1º lugar na 4ª Mostra de Vídeo da Amazônia - categoria Prémio especial do júri, denuncia o que tantas vezes não queremos ver.

via Ideias Despedaçadas.

quinta-feira, setembro 13

Hora da refeição


Pandas gigantes aproveitam a sua refeição no Centro de Protecção e Pesquisa de Pandas, em Wolong, China.

terça-feira, setembro 4

A ideia de um blog é genial.
É um local onde podemos colocar as nossas opiniões, sem qualquer responsabilidade de responder a quem quer que seja. Tal facto não nos inibe da responsabilidade de não ultrapassar as margens do decoro. No entanto há de tudo e, é isso que a Net tem de bom.
Mesmo os mais doentes e desiquilibrados podem desta forma desabafar como lhes aprouver. Muito melhor do que andarmos aos tiros.
Mais barato que ir a um psiquiatra.
Nos raríssimos momentos em que por uma questão de informação, tenho que ver o que se passa nesses blogs, sinto pena por eles, mas também um grande alívio.
Enquanto pensam que chateiam os outros, pelo menos vão aprendendo a ler, a escrever e a fazer copy-paste.
Mesmo à força, vão aprendendo a lidar com este extraordinário meio de cultura. E por muito pouco que façam sempre aprendem alguma coisa.
Força camaradas, continuem...

Um abraço
GED

quinta-feira, agosto 30

O polémico retrato de Bush


George W. Bush, por Jonathan Yeo

Um dos mais conceituados retratistas britânicos, Jonathan Yeo foi convidado pela Bush Library para pintar o retrato oficial do presidente americano para a galeria de presidentes da Casa Branca.
Depois de a referida Biblioteca ter prescindido dos seus serviços, Yeo decidiu continuar o retrato, de uma forma menos "oficial", tendo para o efeito coleccionado fragmentos de imagens pornográficas para compor o rosto do presidente numa polémica colagem, actualmente em exposição na Galeria Lazarides, no Soho, Londres.
À primeira vista, o retrato parece totalmente "inocente", mas, olhando-se com mais atenção, percebe-se que os vários pedaços da colagem que "montam" o rosto do presidente norte-americano são imagens de sexo explícito. Aqui, aqui e aqui, poderá ver detalhes do retrato.

"Fi-lo por diversão, não para ofender, mas estou satisfeito com o resultado", disse Yeo.

sábado, agosto 25

Duas versões...

... de uma Estranha forma de vida

Paulo Gonzo e Carlos do Carmo

Carlos do Carmo e Mariza

quinta-feira, agosto 16








fotografia de Tonspi

terça-feira, julho 31

COISA DE PULMÕES

Carlos Edu Bernardes

Soprar e inspirar pelo dia a fora. Insff! Saber que seus cabelos insuflam e flutuam nalguma esquina, entre flores, balões, parapeitos e suspiros. Humm! Seu hálito límpido ajuda a melhorar o efeito estufa. Ahhh! Eu sei que vou encontrar você, entre dois acordes de violão ou ouvindo um papo-de-anjo estourar numa recepção. Pááá! Seu cheiro vai descobrir que o meu amor está ali, escondido naquele respirar tímido que acompanha seus passos quando você cata moedinhas para os chicletes. Tilim-tilim! Ploc! Deixei de fumar na segunda, pois a partir desta terça eu passei a inalar tudo que lembra você.

domingo, julho 29

Homem Nu Faca No Bolso - Por Nástio Mosquito

Mulher Fósforo - 2006
Impressão sobre alumínio - 100 x 150 cm
Colecção Sindika Dokolo
Presente na Bienal de Veneza 2007






Nástio Mosquito é um talentoso angolano nascido em 1981 e que se tem destacado pela acutilância ferina dos seus textos que tem apresentado nos mais diferentes formatos.

Depois de ter apresentado com retumbante sucesso durante uma temporada no bar espaço Bahia o espectáculo Beijinho no Rabo, e de uma adaptação rádiofónica do mesmo show para o programa Audiência Zero da LAC (Luanda Antena Comercial), Nástio Mosquito prepara agora a versão musical do seu Beijinho no Rabo que deverá ser publicada na segunda metade de 2007 e que levará o nome Homem Nu Faca No Bolso.

Conheça melhor este projecto e oiça algumas das fantásticas músicas de Nástio Mosquito em http://www.myspace.com/homemnufacanobolso

Conheça melhor Nástio Mosquito Aqui


sábado, julho 28

Stop Child Executions

De acordo com as Nações Unidas, uma criança é qualquer pessoa com idade inferior a 18 anos.


A mentora desta campanha é Nazanin Afshin-Jam, que tenta anular as condenações à morte de mais de 20 menores que esperam a execução nas cadeias de Teerão e mudar as leis iranianas, de forma a pôr fim à execução de menores.

Assine a petição AQUI

sexta-feira, julho 27

ACIDENTE RADIOATIVO PELA PRIMEIRA VEZ NO PALCO

Desenrolou-se neste mês de julho no palco do Teatro Goiânia Ouro, no centro de Goiânia, Goiás, Brasil, uma peça teatral que relembra um dos episódios mais duros e tristes da existência dessa jovem capital brasileira: o acidente radioativo ocorrido em setembro de 1.987, após a abertura de uma cápsula de Césio 137 por três inocentes e desavisados catadores de papel.

Denominado de Azul Esgotado, pois azul era o pó brilhante extraído da cápsula, o espetáculo contou com três jovens talentos no palco e a mão sensível de uma diretora teatral, Angélica Braga, discípula do irreverente e inventivo Hugo Rodas, diretor uruguaio radicado em Brasília.

Vejamos o que disse a repórter Cida Almeida, que cobriu o acidente na época do acontecido e que acompanhou o processo criativo, cênico e escrito do espetáculo, inclusive é dela a poesia declamada ao fundo durante a performance do gracioso trio: “Coincidentemente, quando se completa 20 anos do acidente, chega aos palcos pela primeira um recorte dessa tragédia, com muita, mas muita sensibilidade no olhar. Durante o mês de julho, Azul Esgotado, modestamente caracterizado como “ensaio coreográfico”, foi apresentado no Teatro Goiânia Ouro, às 20 horas. Mas o espetáculo, pela qualidade e força cênica, deve rodar os principais circuitos culturais do Brasil. Já passou por audições em Santa Catarina e São Paulo, onde impressionou e aguçou curiosidades, principalmente porque a maioria do público nunca ouviu falar no acidente radioativo de Goiânia”. E ela continua: “No princípio era a cor. E a cor era azul. Azul! Azul desejado, reverenciado, procurado à exaustão, como metáfora da irreal e fugaz felicidade. Azul desbotado. Azul das fases geniais dos mestres da pintura. Que sonho as bailarinas azuis de Degas! Azul néon das ruas, de jeans, índigo blue. Azul de tudo bem, tudo azul. Azul da cor do céu. Azul da cor do mar. Azul pertinho e azul de longe, muito longe, anos luz de azul. Azul dos olhos de Sinatra e da esplendorosa visão de Neil Armstrong, que pisou na lua e balbuciou: a Terra é azul. Azul de sonho, de luz de palco, de momentos de combustão na chama. Azul de césio-137, azul de ciência encapsulada, azul de letal segredo violado... Azul em pó, dançando de mãos em mãos numa perversa ciranda radioativa no quintal”.

Num jogo de luzes embasado no azul, um azul que em momento algum deixa de denunciar a tristeza progressiva do trágico resultado do episódio, vemos flutuar pelo palco do teatro a bailarina Fernanda Costa, de apenas 14 anos (sobrinha e afilhada deste que vos escreve), e os atores Rodrigo Cunha e Vanessa Ruiz. A voz de Carolina Braga, jovem cantora lírica de apenas 16 anos, e que recebeu um convite para cantar no Japão, dá o tom angelical ao fim do último ato, com uma ária que nos transporta, entontecidos, às alturas.

A repórter Cida Almeida conta mais: “Azul Esgotado é mais que um ensaio coreográfico, realizado pelo Núcleo de Pesquisa da Escola de Teatro e Dança Vivace. Dança, música, teatro e poesia, linguagens que se entrelaçam para narrar no palco um drama com todos os tons de realismo fantástico, se não fosse de fato real e não tivesse de fato acontecido. Mais que um drama, uma tragédia. O fantástico fica por conta da nossa incredulidade dessa tragédia moderna ter acontecido no nosso quintal. E moderna porque une no mesmo fio o máximo da conquista científica e tecnológica do homem – a fissura do átomo e o uso dos elementos radioativos para a cura do câncer – e o descaso e a ignorância. Essa tragédia narrada em Azul Esgotado é o acidente radioativo de Goiânia, ocorrido em setembro de 1987”.

“Às vésperas de se completar vinte anos do acidente, a história já rendeu livros (precipitados), filme e documentários. Considerado o maior acidente radioativo doméstico da história, a tragédia do Césio 137 fez quatro vítimas fatais (logo após a descoberta do acidente, entre elas a menina Leide das Neves Ferreira, que chegou a ingerir césio, transformando-se numa fonte radioativa viva), centenas de vítimas diretas e outras indiretas. Pior que o rastro de contaminação deixado pelo césio foi a discriminação engatilhada no day after“.

“Vinte anos é tempo suficiente para embalar o esquecimento. Pouco se fala do acidente, que teve um enredo tão difícil de acreditar que nem o mais inventivo autor de ficção científica ousaria imaginá-lo. Catadores de papel furtam parte de um aparelho de radioterapia deixado nos escombros de uma clínica abandonada. A peça é aberta a marretadas em um ferro-velho na região central de Goiânia e a cápsula de césio violada. A pastilha de césio, que emitia uma luz azul brilhante, começa a ser distribuída em pedaços, pequenas pedrinhas, entre vizinhos e amigos curiosos. Tem gente que levou pra casa no bolso da calça. Outros inventaram brincadeiras lúdicas com aquele pó que brilhava na escuridão, como Ivo Alves Ferreira (já falecido), pai da menina Leide das Neves. Os dois espalharam o pó, apagaram as luzes, e sonharam com uma cidadezinha de fantasia brilhando na noite daquele setembro de 1987, tamanho o fascínio da luz azul emitida pelo Césio 137”.

“Acidente do descaso e da ignorância. Descaso porque todas as pessoas e instituições que deveriam zelar pela guarda e segurança daquele aparelho falharam. E acidente da ignorância porque a maioria esmagadora das pessoas desconhecia os perigos da radiação e nem poderiam suspeitá-lo tão perto, ao alcance da mão. É cruel, mas toda tragédia tem lá o seu lado pedagógico. O acidente com o césio gerou centenas de pesquisas sobre os efeitos da radiação em seres humanos com os mais variados graus de exposição, técnicas em processos de descontaminação e de controle de resíduos no ambiente, novas normas de segurança, enfim, mais ciência e tecnologia. E a popularização do símbolo da radiação, aquele alerta de perigo que reconhecemos no trevo alaranjado que ostenta algumas salas de hospitais e laboratórios”.

“Uma tragédia azul - E como uma história assim poderia funcionar no palco? Maestria, unindo a idéia do fascínio azul ao minimalismo de três pessoas no palco. É como se abríssemos uma caixinha de música, de onde saltam o encantamento e a ameaça. Antes, apenas um balé silencioso da menina no mundo da partícula de luz azul, amparada em suas evoluções por dois seres de máscaras, trajando macacões brancos, os mesmos que os homens da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) usaram em Goiânia quando entraram nas áreas contaminadas e logo isoladas com fitas amarelas”.

“O balé é encantador, vertiginoso e trágico. A cena é carregada de simbolismo. A menina dança como se estivesse no espaço, às voltas com dois astronautas ou anjos na UTI. A dança tem o ritmo da respiração. De novo astronauta e de novo respirador artificial de uma Unidade de Terapia Intensiva. E a menina conheceu sim o medo dos vidros, das máscaras e do isolamento. Era uma fonte radioativa viva sob os cuidados de atônitos cientistas e médicos no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, onde morreu. E, claro, a música, sempre música, diáfano véu conduzindo a cena. E tem a voz de Carolina Braga, uma ária que embrulha a cena com um véu finíssimo de tristeza”.

“E tem também palavra para fazer recordar e acordar a história. Palavra de lembrar, de ressentir, de doer, de se colocar no lugar do outro, de abraçar, de escutar... Palavra de não deixar calar a tragédia humana que, às vezes, pula o muro e vem dançar no nosso quintal”.

Espetáculo: Azul Esgotado
Coreografia: Angélica Braga
Bailarina: Fernanda Costa
Atores Rodrigo Cunha / Vanessa Ruiz
Canto: Carolina Braga
Concepção: Valéria Braga
Poesia: Cida Almeida
Voz gravada: Valéria Braga

segunda-feira, julho 23

A União Europeia e o Youtube

Vai aquecendo a polémica acerca da promoção do canal Youtube da União Europeia.
Os vídeos sobre a política agrícola da UE e/ou a segurança nas estradas são pouco vistos; mas um vídeo com cenas eróticas do cinema europeu tornou-se, automaticamente, um grande sucesso.

Para o eurodeputado conservador da Grã-Bretanha, Chris Heaton-Harris, a Comissão Europeia anda a desperdiçar o dinheiro dos contribuintes e um eurodeputado da Polónia, membro da conservadora Liga das Famílias Polacas, acusou a comissão de usar "métodos imorais" para se promover.
O porta-voz da Comissão Europeia, Martin Selmayr, informou que chegou uma onda de reclamações da Polónia sobre uma cena íntima entre dois homens, mas recusou-se a admitir que exista alguma coisa controvérsia sobre o filme. Irritado com o que chamou de "ataque quase religioso à importante diversidade cultural que existe na UE", ele afirmou que as imagens são passagens de filmes premiados e que a Comissão tem muito orgulho da sua rica herança cinematográfica, tendo acrescentado: "A União Europeia não é um reduto de leitores de bíblia; nós acreditamos na liberdade de expressão e na criatividade artística".
Para a vice-presidente da Comissão, Margot Wallstrom, "É muito importante para a Comissão usar todas as formas ao seu dispor para se comunicar com os cidadãos europeus".

O vídeo Film Lovers Will Love This é um de quatro feitos para exibição em cinemas europeus para divulgar um fundo da UE que ajuda a distribuir filmes de sucesso feitos nos países-membros. Mas, só depois da União Europeia ter lançado o seu próprio canal no YouTube, EUtube, é que Film Lovers Will Love This ofuscou os outros vídeos da série.
Nenhum dos autores de e-mails para o site EUtube apresentou objeções sobre o conteúdo sexual. A principal queixa é que são poucos os filmes que estão disponíveis em idiomas que não o inglês, mas os gritos de Film Lovers Will Love This! não precisam de tradução.

domingo, julho 22

MAMUNIA

Mamunia aparecia toda vez que chovia.


A janela quebrada sempre me fazia correr para colar um pedaço de sacola de supermercado na minha vitrola 1976, para que os pingos não a encharcassem.

Era só olhar através do vidro partido e ver Mamunia caminhando pela rua e, de vez em quando, olhando para cima para certificar-se de que as gotas translúcidas estavam mesmo regando os seus cabelos.

Ela e sua blusa incrivelmente branca, sua pele alucinadamente negra, a cabeça bela e altívaga de quem passeia pelos campos.

Mamunia colecionava ventanias e cheiros de árvores secas, bem como poesias de ar e prenúncios de pássaros, que flutuavam ao redor dos seus olhos.

Suas mãos delicadas e imensas, seus braços leves, pontes maleáveis, tateavam toda a vizinhança como se fossem holofotes de rara luz. Gatos, cachorros e músicas gostavam de parar seus mundos quando eram, por seculares frações de segundos, tocados por ela.

Mamunia glorificava a chuva e dançava nas esquinas com o seu hálito quente de verão, soprando calçadas e dando rápidos sustos em descuidados corações.

Era bom saber que ela viajava de nuvem e que semeava relâmpagos e pequenos vaga-lumes nos porões e sótãos.

Um dia Mamunia me deu um beijo na boca e eu nunca mais sofri de solidão.


terça-feira, julho 10

Cama e Mesa, Roberto Carlos

Ahahah, recordar o que eu chamaria de "fino brega" ou "pimba erudito"!

terça-feira, julho 3

segunda-feira, junho 25

SÉKOU TOURÉ

Ahmed Sékou Touré
(Presidente da Guiné de 1958 a 1984)
9-1-1922, Faranah
27-3-1984, Cleveland, Ohio

De religião muçulmana, iniciou a sua carreira política em 1945 como líder sindical, tendo sido co-fundador do Rassenblement Démocratique Áfricain (RDA). Em 1952, reorganizou seu partido (Parti Démocratique de Guinée, PDG) como uma seção do RDA, a partir de pressupostos marxistas. Deputado da Assembleia Nacional Francesa desde 1956, lutou pela independência do seu país, convertendo-se em primeiro-ministro do território autónomo em 1957 e, em 1958, no primeiro presidente e chefe de Governo da Guiné independente. Isolado pelo Ocidente, iniciou uma aproximação política da União Soviética. Construiu um regime ditatorial apoiado numa base ideológica de inspiração marxista, nacionalista e pan-africana, que permitiu um certo progresso, mas que não conseguiu fazer o país sair do subdesenvolvimento económico. Após sua morte, o regime foi liquidado por um golpe militar.

segunda-feira, junho 18

Batismo de Sangue - filme


Levei dez anos para escrever "Batismo de Sangue" (editora Rocco), de 1973, ao sair de quatro anos de prisão, a 1983. Reviver toda a saga de um grupo de frades dominicanos na luta contra a ditadura militar fez-me sofrer. Revirei a memória, fiz entrevistas e pesquisas, revisitei os locais dos acontecimentos, consultei arquivos. Sim, arquivos. O governo federal, comandado por dois ex-presos políticos (Lula na Presidência e Dilma Rousseff na Casa Civil), desconsidera a memória nacional ao não abrir os arquivos das Forças Armadas. Felizmente existem arquivos fora do controle militar. Sobretudo arquivos vivos, sobreviventes da grande tribulação.

Deu-me trabalho levantar os últimos momentos do líder revolucionário Carlos Marighella e o intrincado cipoal em torno de seu assassinato pela repressão, em 4 de novembro de 1969. E doeu-me descrever em detalhes a paixão e morte de frei Tito de Alencar Lima, levado ao suicídio em 1974, aos 28 anos, em decorrência das torturas sofridas nas dependências do II Exército, em São Paulo. Queriam forçá-lo a assinar confissões falsas e delatar pessoas. Não escutaram senão o silêncio daquele religioso que sabia ser "preferível morrer do que perder a vida", como escreveu em sua Bíblia.

Um dia dei o livro a Helvécio Ratton, que também militou na resistência à ditadura e esteve exilado. Escrevi na dedicatória: "Helvécio, a vida supera a ficção". Diretor de cinema, ele tomou a si o desafio e levou às telas "Batismo de Sangue", que estréia a 20 de abril. As cenas - ambientação precisa dos anos 60 - foram rodadas no Brasil e na França. Integram o elenco Caio Blat (no papel de Frei Tito), Ângelo Antônio (frei Oswaldo), Léo Quintão (frei Fernando), Odilon Esteves (frei Ivo), Daniel de Oliveira (que me interpreta), Marku Ribas (Carlos Marighella), Marcélia Cartaxo (Nildes), Cássio Gabus Mendes (delegado Fleury) e outros.

Filmes nem sempre retratam adequadamente os livros nos quais se inspiram. Em geral, a literatura ganha em profundidade da arte cinematográfica, obrigada a condensar-se num par de horas. O livro, traduzido para o francês e o italiano (e, em breve, para o espanhol), merecedor do mais conceituado prêmio literário do Brasil, o Jabuti, atrai o interesse dos leitores desde sua publicação há 24 anos. Falei ao Helvécio: "Livro é livro, filme é filme; não quero interferir." O máximo que solicitou, a mim e aos frades Fernando de Brito, Oswaldo Rezende e o ex-dominicano Ivo Lesbaupin, foi conversar com os atores sobre a nossa experiência na guerrilha urbana e na prisão. Li o roteiro de Dani Patarra, considerei-o excelente, mas preferi não opinar.

Em março, no Festival de Brasília, vi o filme pela primeira vez. Fiquei transtornado: arrancou-me lágrimas, reavivou-me a indignação contra o arbítrio, ativou-me as teias da emoção, enlevou-me pela trilha sonora, fez-me agradecer a Deus pertencer a uma geração que, aos 20 anos, injetava utopia nas veias. Fiquei embevecido frente à força estética das imagens produzidas pelo talento de Helvécio Ratton. O Festival de Brasília concedeu-lhe os prêmios de Melhor Direção e Melhor Fotografia (Lauro Escorel). No Festival de Tiradentes, a platéia de mais mil pessoas, a maioria jovens, expressou a emoção em prolongadas palmas.

A arte brasileira adianta-se ao governo e escancara os bastidores da ditadura. Este é um filme a ser visto especialmente por quem não viveu os anos de chumbo. Ali está o estupro da mãe gentil, gigante entorpecido, o Brasil sem margens plácidas, arrancado do berço esplêndido, resgatado à democracia pelos filhos que, por amor e esperança, e sem temer a própria morte, não fugiram à luta.

"Batismo de Sangue" é um hino à liberdade. Nele se revela a história recente de uma nação e a fé libertária de um grupo de cristãos. Emerge, contundente, a subjetividade dos protagonistas, como frei Tito, em quem se transubstanciou a dor em amor, o sofrimento em oblação, as algemas em matéria-prima desta invencível esperança de construirmos um mundo em que a paz seja filha da justiça, e a felicidade, sinônimo de condição humana.

Frei Betto, aqui

Veja aqui a apresentação do filme baseado no livro com o mesmo nome.

Aqui encontrará o site do filme e aqui uma notícia sobre o dia em que os frades dominicanos, ordem a que pertence Frei Betto, foram assistir.

domingo, junho 10

Moringues (31)

domingo, junho 3

Há bonecos e... BONECAS!

Raramente me dou ao trabalho de perder tempo a ler as chamadas revistas "del corazón". A não ser quando espero pela vez no cabeleireiro ou, por artes mágicas, me aparece alguma em casa. Foi o caso deste fim de semana, em que uma aqui caiu de para-quedas.
Folheando-a, dou com uma notícia sobre uma "magnífica" boneca de silicone, que dá pelo nome de KOYUKI, fabricada pela firma Orient Industry, de Tóquio.

Aí está ela:

Se estiver interessado, pode adquirir uma dessas bonecas a partir da módica quantia de 6,589 dólares.
Veja aqui a variedade de corpos, caras e penteados de que dispõe.
Para mais informação sobre o "The Silicone Valley of the Dolls", veja aqui.

quinta-feira, maio 31

Mulheres e a guerra

Fotografia de Jenny Matthews - Serra Leoa

O número de mulheres que, em todo o mundo, sofre os traumas da guerra é incontável: enviuvam, são detidas, separadas dos seus familiares, tornam-se vítimas da violência e de intimidação, são constantemente deslocadas dos seus lugares de origem. São civis inocentes, apanhadas no fogo cruzado, mas sabem com frequência encontrar os recursos e a força para enfrentar as perdas e a destruição que afectam as suas vidas.
Mas há também mulheres que participam activamente na guerra como combatentes. Assim, devem merecer o mesmo respeito que os homens, no caso de serem capturadas ou feridas.

terça-feira, maio 29

PATRICE LUMUMBA

Lumumba foi o primeiro Primeiro Ministro da República do Congo. Nasceu em 2.07.1925, em Sancuru, província de Kasai. Estudou em colégios de missionários católicos e protestantes e posteriormente trabalhou no correio, iniciando suas actividades políticas que visavam a libertação do Congo do colonialismo belga. Percebeu que para isso seria necessário suplantar as diferenças tribais entre as populações negras do Congo. Junto a correlegionários, escreveu uma declaração defendendo a imediata independência do país. Em 1958 fundou o MNC – Movimento Nacional Congolês. Ao contrário de outros partidos, defendia a independência de todo o país e a união de todos os congoleses, independentemente de suas origens tribais. O governo belga e as multinacionais que exploravam as riquezas do país e mantinham seu poder através de violenta repressão, tiveram de lidar com frequentes revoltas populares e a condenação da opinião pública internacional até quando entenderam que não seria mais possível manter o controle sobre o país africano. Após vários aprisionamentos e longas perseguições a Lumumba, visto como um líder radical pelo governo belga, este aceitou negociar. Nas eleições de meio de 1960, o MNC venceu e Lumumba tornou-se Primeiro Ministro, levando a nação congolesa à independência em 30 de Junho. Lumumba buscou externamente um governo de não-alinhamento e internamente buscou promover mudanças na vida social e económica do povo, vítima da exploração belga e das elites tribais locais. Isso provocou a reacção destas que, com o apoio da CIA – governo Eisenhower – e do governo belga,levaram à sua destituição do cargo pelo Presidente Joseph Kasavubu, cuja autoridade para isso foi contestada por Lumumba. O golpe levou ao assassinato de Lumumba na passagem de 17 para 18 de Janeiro de 1961, em Elisabethville, após uma tentativa de fuga frustrada e prolongadas sessões de tortura. O governo foi parar nas mãos de Mobutu Sese Seko, que estabeleceu uma ditadura corrupta e sanguinária que levou o país de volta à submissão à Europa e aos EUA. A vida de Lumumba é um exemplo para todos brasileiros de como governos estrangeiros e imperialistas podem utilizar tribos nativas e suas diferenças culturais para minar o poder de governos de união e integração nacional.

domingo, maio 27

Moringues (30)

terça-feira, maio 22

Luandino em conversa

José Luandino Vieira (18/05/2007)

Não conhecia Luandino a não ser dos seus livros, cujas páginas devorei, numa mistura de recordação e curiosidade. "Ouvindo" palavras que me soavam tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes...
Admirando a "vida" que empresta à sua linguagem, encontrei-me à frente de uma personagem fascinante, numa conversa franca em que deu a conhecer aos presentes uma vida de luta pelos ideais, uma tranquilidade que se vai aprendendo com os mais velhos, os valores da liberdade e da justiça.
Quero crer que foi uma lição de vida aos mais novos presentes. Para os outros, o reconhecimento de que as utopias não morrem e que o nosso mundo pode mudar se nós próprios fizermos todos os dias algo para o melhorar.
Foi muito bom ter ouvido Luandino; melhor ainda quando voltar a encontrá-lo.

sexta-feira, maio 18

MODIBO KEITA

Modibo Keita nasceu a 4 de Junho de 1915, em Bamako, Mali, e morreu a 16 de Maio de 1977, em Bamako. Presidente de Malí (1960-68).
Considerado como um anticolonialista perigoso pelos franceses que o prenderam em 1946. Dois anos depois ganhou um lugar na Assembleia Territorial e em meados dos anos 50 foi eleito deputado da Assembleia Nacional Francesa.
Em 1958 num referendo em que as colónias francesas de África tiveram que escolher entre a autonomia na Comunidade Francesa ou a independência imediata, Keita luta pela independência com êxito. Mas a Comunidade Francesa só chega a formar-se com a participação do Mali, Senegal e Sudão.
Modibo Keita é eleito Primeiro Ministro da Federação da Comunidade mas esta união durou pouco tempo por não haver acordo sobre a estrutura política da Federação e os países tornam-se independentes, tornado-se Keita no Presidente do Mali.

A 19 de Novembro de 1968 foi derrubado por um golpe de estado militar. Passou o resto da sua vida exilado.

quinta-feira, maio 17

STEVE BIKO


Stephen Bantu Biko (18 de Dezembro de 1946 - 12 de Setembro de 1977) foi um conhecido activista do movimento anti-apartheid na África do Sul, durante a década de 1960.
Insatisfeito com a União Nacional de Estudantes Sul-africanos (National Union of South African Students((en))), da qual era membro, participou da fundação, em 1968, da Organização dos Estudantes Sul-africanos (South African Students' Organisation). Em 1972, tornou-se presidente honorário da Convenção dos Negros (Black People's Convention).
Em Março de 1973, no ápice do regime de segregação racial (Apartheid), foi "banido", o que significava que Biko estava proibido de comunicar com mais de uma pessoa por vez e, portanto, de realizar discursos. Também foi proibida a citação a qualquer de suas declarações anteriores, tivessem sido feitas em discursos ou mesmo em simples conversas pessoais.
Em 6 de Setembro de 1977 foi preso em bloqueio rodoviário organizado pela polícia. Levado sob custódia, foi acorrentado às grades de uma janela da penitenciária durante um dia inteiro e sofreu grave traumatismo craniano. Em 11 de Setembro, foi embarcado num veículo policial e transportado para outra prisão. Biko morreu durante o trajecto e a polícia alegou que a morte se devera a "prolongada greve de fome empreendida pelo prisioneiro".
Em 7 de Outubro de 2003, autoridades do Ministério Público Sul-africano anunciaram que os cinco policiais envolvidos no assassinato de Biko não seriam processados, devido a falta de provas. Alegaram também que a acusação de assassinato não se sustentaria por não haver testemunhas dos actos supostamente cometidos contra Biko. Levou-se em consideração a possibilidade de acusar os envolvidos por Lesão Corporal seguida de morte, mas como os factos ocorreram em 1977, tal crime teria caducado (não seria mais passível de processo criminal) segundo as leis do país.

quarta-feira, maio 16

Moringues (29)

AHMED BEN BELLA


Mohamed Ahmed Ben Bella (Árabe: احمد بن بل) (nasceu a 25 de Dezembro de 1918, Maghnia, Argélia). Foi o primeiro presidente da Argélia e principal líder da guerra da Argélia pela independência em relação à França, Ben Bella terá nascido, provavelmente, em 1918.
O processo político decisivo para a independência do país teve início em 1954, embora Ben Bella e outros já se encontrassem empenhados nesse objectivo desde há vários anos. Naquela data, Ben Bella e os líderes nacionalistas argelinos residentes no Egipto encontraram-se secretamente na Suíça, onde criaram o movimento Frente de Libertação Nacional e decidiram realizar uma insurreição contra os colonos e militares franceses.
Em 1956, Ben Bella foi preso pelas autoridades militares francesas, depois de ter escapado com vida, nesse mesmo ano, a dois atentados, um no Cairo e outro em Trípoli. Foi posto em liberdade em 1962, ano da independência. Em 1963 o país encontrava-se numa situação grave e Ben Bella foi eleito, sem oposição, para a presidência da Argélia, com uma imensa maioria. Restabeleceu a ordem no território, operou um conjunto de nacionalizações e implementou uma reforma agrária, encaminhando o país para uma economia socialista. Ben Bella foi o primeiro chefe de Governo e o primeiro presidente eleito (1963-1965) da República da Argélia.
Em 1965 foi deposto, na sequência de um golpe de Estado. Passou dez anos no exílio e regressou ao seu país em 1990, quando a Frente de Salvação Islâmica (FSI) estava no poder. Ben Bella conseguiu o apoio de seis partidos políticos e, um ano depois, convocou eleições. Mesmo com a realização de comícios, o seu partido não conseguiu triunfar perdendo as eleições de 1991 para a Frente de Salvação Islâmica.

terça-feira, maio 15

FMI - José Mário Branco






Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!


FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI

Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição. Webmaster: franciscojmleitao@hotmail.com (08/2002)


Site original aqui
Pode escutar aqui ou na Rádio Vila Morena aqui n'O-Moringue

Related Posts with Thumbnails