MAMUNIA
Mamunia aparecia toda vez que chovia.
A janela quebrada sempre me fazia correr para colar um pedaço de sacola de supermercado na minha vitrola 1976, para que os pingos não a encharcassem.
Era só olhar através do vidro partido e ver Mamunia caminhando pela rua e, de vez em quando, olhando para cima para certificar-se de que as gotas translúcidas estavam mesmo regando os seus cabelos.
Ela e sua blusa incrivelmente branca, sua pele alucinadamente negra, a cabeça bela e altívaga de quem passeia pelos campos.
Mamunia colecionava ventanias e cheiros de árvores secas, bem como poesias de ar e prenúncios de pássaros, que flutuavam ao redor dos seus olhos.
Suas mãos delicadas e imensas, seus braços leves, pontes maleáveis, tateavam toda a vizinhança como se fossem holofotes de rara luz. Gatos, cachorros e músicas gostavam de parar seus mundos quando eram, por seculares frações de segundos, tocados por ela.
Mamunia glorificava a chuva e dançava nas esquinas com o seu hálito quente de verão, soprando calçadas e dando rápidos sustos em descuidados corações.
Era bom saber que ela viajava de nuvem e que semeava relâmpagos e pequenos vaga-lumes nos porões e sótãos.
Um dia Mamunia me deu um beijo na boca e eu nunca mais sofri de solidão.
3 comentários:
Oi grande Edu!
Belo texto o do beijo de Mamumia!
Amigos e frequentadores deste moringue, onde a água é fresca para as ideias com sede, tenho o prazer de apresentar o grande amigo Edu, brasileiríssimo de Goiás, beatlemaníaco de coração...
Abração (arlã()!
Belo texto, Edu!
Bem vindo ao Moringue.
Vida nova para este lugar!
Abraço
Obrigado amigos Toke e Ana pelas boas vindas! Espero contribuir para o sucesso do Moringue. Vi que é um lugar cheio de feras. É uma honra estar aqui!
Abraçã() a todos!
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