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quarta-feira, janeiro 31

OS MEUS HERÓIS

Quando entramos para a escola começamos a aprendizagem de um monte de coisas, e uma delas são os heróis da nossa história, e da dos outros. Até ali, os nossos heróis são normalmente os nossos pais, um familiar ou um vizinho. Eu como fui para a escola no tempo colonial, comecei (eu e os outros que estudaram nesse tempo) por levar com o D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal. História chata, o Afonso bateu na mãe, e acabou por fundar a que seria a nossa futura e agora ex. “metrópole”, mas não gostei, um homem que bate na mãe não deve ser grande coisa. Depois levei também com uma padeira que era de Aljubarrota, sinceramente também não fiquei lá muito convencido com a estória dos pães.

E vários heróis se seguiram, o resultado era sempre o mesmo, não me convenciam, não achava nada de interessante nas personagens, o que fez de mim um indivíduo sem heróis.

Acreditem que é chato para caramba, não ter heróis.

É que até na banda desenhada que se lia na época, eu gostava mais dos índios que do Búfalo Bill ou do General Custer, na colonização sangrenta do velho Oeste Americano. E nos filmes de cow-boys então, achava ridículo o John Wayne, um matulão que era maior que os cavalos, e que com uma espingarda limpava dois índios com um só tiro. Lá fui crescendo, sem heróis.

Depois da nossa independência, também me apresentaram os novos heróis, mas continuei a ser o mesmo anti-herói empedernido.

Bem, mas depois de quase velho, no início da década de noventa do século passado, li um livro de um homem que já sabia que existia desde jovem. Depois da nossa independência, passei a saber um pouco mais quem era essa personagem. Nessa altura, ele já era há muito a bandeira do povo do seu país.
E caso curioso o seu nome parecia que agradava a todo o mundo. Era desde aos países do leste Europeu, na altura comunistas e amigos do peito do governo cá do burgo, mas também tinha o mesmo efeito nas ditas democracias do ocidente, no continente africano o efeito era o mesmo, desde o Mobuto, um ditador corrupto de direita, ou às ditaduras corruptas de esquerda, todos eles exigiam a sua libertação. Aí estava alguém que parecia mesmo um herói, estava todo mundo de acordo, apenas os que o mantinham na cadeia é que estavam fora daquela unanimidade geral.

Os anos passaram e um dia os carcereiros da bandeira mundial, não tiveram outro remédio senão o libertar daquele longo e injusto cativeiro.
As televisões de todo o mundo, inclusive a nossa TPA deram as imagens desse momento e das seguintes do Homem. Curioso, acompanhei esses momentos televisivos, e fiquei surpreendido, quando vi um ancião alto, de ar decidido, com um andar caricato, e com um sorriso permanente nos lábios, não parecendo decididamente que tinha estado longos 27 anos na cadeia.
Mais estranhos ainda eram os discursos dele. É que o tal ancião só falava de amor, paz e democracia, tolerância, transparência e que o seu país iria ser um verdadeiro arco-íris.

Muita gente esperava que depois de tanto tempo de luta e tantos anos de cadeia, que o Homem fosse mais um revolucionário inspirado nas ideias falidas do marxismo-leninismo, ou mais um dos lideres africanos, que nunca sabemos o que pretendem, a não ser governarem governando-se. Mas qual quê? Ele nos longos anos de cadeia parece que conseguiu entender muito o melhor o mundo, que aqueles que o tinham comandado e influenciado nos últimos vinte sete anos.

Depois como já disse, li o seu livro, “O longo caminho para a liberdade”. Comprei-o numa livraria de Lisboa, a pensar lê-lo já em Luanda, mas que nada, lá mesmo comecei a lê-lo e não mais parei, devorei-o rapidamente, e assim consegui entender melhor o raciocínio e a lógica do pensamento dessa personagem fantástica. E eu, com quarenta e tal anos, tinha encontrado o meu HERÓI.

Todos os que estejam a ler estas linhas já perceberam que o meu herói só pode ser o sul-africano Nelson Mandela.

Acreditem que quando decidi fazer dele o meu herói fiquei aliviado. Passei a entender esse sentimento, pois sempre me fez confusão ver os outros a falar dos seus heróis, e eu a não entender tanta felicidade e admiração.

Actualmente dado a sua avançada idade, as suas aparições são menos frequentes, e raramente faz declarações, o que se compreende, mas é pena, pois as suas posições lúcidas seriam sempre referências a seguir pelos que acham que ele é um farol no meio de tanta estupidez internacional.

O mundo está de facto cheio de gente estúpida, a começar pelo alcaide-mor da super potência mundial, o patético George Bush, que faz a política do, “se não és por mim, és contra mim”, aos lideres do mundo muçulmano, que fazem da política de estado a religião, com um fanatismo que ultrapassa a irracionalidade, às oligarquias africanas, sem esquecer a China, que encontrou uma fórmula duvidosa, que é, liberdade económica, e falta dela nos aspectos mais fundamentais da liberdade de expressão e de direitos humanos. A velha Europa com todos os seus valores democráticos, parecem muito gordos e burgueses e por vezes parecem não entender o que se passa no resto do planeta, voltados mais para uma União europeia, projecto que já pareceu mais azul, que nos tempos que correm.

Que pena a humanidade na sua longa história, ter produzido mais gente como Hitler, Bin Laden, ou Bokassa, do que homens como o nosso Nelson Mandela. Porque será que é mais fácil ser estúpido, egoísta e mau para com os seus semelhantes, do que o contrário? Como seria o mundo se todos nós tivéssemos um pouco de Mandela dentro de nós? Certamente o planeta azul seria muito mais agradável, e a nossa curta passagem por esta vida seria muito mais gratificante.

2 comentários:

ana b. disse...

Bem vindo, Jotta!
Estamos aí, aqui.
Abraço

Anónimo disse...

Sempre que houver tempo, cá estarei, na nossa água fresca.
Kandandus

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