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quarta-feira, abril 25

AS CRIANÇAS

Nada me perturba tanto, como o sofrimento de uma criança. Como profissional, trato os adultos com algum distanciamento. Não confudam com frieza. É o distanciamento apenas necessário, para que eu próprio possa sobreviver. Trazem-me sofrimento, mas é controlado.
Quando tenho uma criança, não há como dar a volta. São dias terríveis da minha vida.

TRÊS SEGUNDOS
(Este poema dura em média cerca de 45 segundos a ler).




Em cada três segundos morre um menino
Evaporam-se em fome, doença ou solidões
Neste preciso instante já morreram três
Para estes jamais poderá haver soluções.

Os dedos da mão estalam em ritmos loucos
Um morto, outro desiste, outro vai embora
Alucinados vagueiam na global indiferença
De um drama, que em cada dia não melhora

Dia mundial, da fome, da criança, do amor
Da paz e de múltiplas outras solidariedades
Já se exilaram sem retorno, mais outros três
Destroços inúteis na casa azul da liberdade

Ausência, medo, pavor, peso de vergar almas
Nunca, nunca mais, outros três lindos sorrisos
Os meus olhos rasam-se em oceanos de dor
Por tantos, tantos meninos vivendo indecisos

As manhãs do nosso futuro, desistem na noite
Outras três voaram para além das cordilheiras
Eram cientistas, ou carpinteiros, ou bailarinas,
Seriam adultos, vivendo as suas vidas inteiras.

Nunca mais será possível adormecer em paz
Sabendo que o tempo rola na escuridão fria
Mais três que partiram nos ventos diferentes
Fugiram e levaram com eles a nossa alegria

Corre por este rio de alucinações e maravilhas
Esta ausência, do pedaço de pão para todos nós
Desertaram mais três, esgotados de esperas vãs
Sinto-me, sentimo-nos todos, cada vez mais sós.


GED

1 comentário:

Pena disse...

As crianças são tudo o que há em mim.
Revejo-as nos meus dois filhos.
Para mim, a minha escola é feita de crianças. Puras. Sinceras. Acalentam sonhos. As travessuras são actos de amor.
Como são transparentes?
Todos os dias lá vão de sacas carregadas com o saber. Com o conhecimento. Aceitam tudo. Dão o que podem dar e não dar. Mas, vão. Logo de manhã com olhos piscos, mal despertos, com um naco de pão de alimento que as conforta.
Mas, vão! Verdadeiros heróis da Vida!
Como as entendo.
Com muito respeito e amizade
Abraço.
pena

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