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terça-feira, maio 8

MUHAMMAD V


As palavras rei, realeza, reino ou reinado, soam aos nossos ouvidos, especialmente nós, os mais velhos, num misto de saudosismo lírico e capitalismo de luxo.
Quem, entre os da geração "vovô", e até da geração "papai" mais antiga, não se emocionou profundamente com as historias da carochinha, contadas pelos nossos maiores...
"Era uma vez, em um reinado distante, um rico e poderoso rei..."
A criançada das décadas de trinta e quarenta se deliciava com aquelas histórias que as transportava para os mundos impossíveis da fantasia.
Pois bem! ainda existem reinados assim.
Marrocos é o testemunho real dessa realeza com fundo de verdade, retirada das histórias das mil e uma noites e colocada entre o Gibraltar, o estreito que separa a África da Europa e que teria sido aberto pelos poderosos braços de Hércules - o gigante mitológico -, os Montes Atlas onde o poderoso gigante desse nome segurava a Terra nos primórdios da criação, e o tenebroso deserto do Saará palco de muitas fábulas e contos misteriosos...
Situado na região setentrional da África, compõe com a Argélia e a Tunísia o chamado Magrebe, nome que quer dizer "lugar onde o Sol se deita..."
A população desse país de mil e uma noites é de cerca de vinte e oito milhões de habitantes, composta de árabes marroquinos, beduínos (habitantes do deserto: berberes e tuaregues), mouros judeus, negros e europeus.
A religião islamita é reverenciada por cerca de 98% dos habitantes, todos da linha sunita ortodoxa. E nesse país fala-se vários dialectos do deserto, o árabe e a língua francesa...
A capital do Reino é Rabat onde está construído o suntuoso palácio real e vivem príncipes e princesas, e toda uma corte, como nos reinos de fadas, com seus pajens, fidalgos e nobres, onde não faltam formosas odaliscas para servirem e encantar a vida do Rei.
Para o ocidental recém chegado de outros continentes, somente falta ali Ali Babá e Aladim com sua "lâmpada" maravilhosa...
Os registos históricos falam da colonização pelos fenícios no primeiro milênio antes de Cristo. E sabe-se que foi uma colónia da lendária cidade de Cartago.
Esteve sob o domínio do Império Romano no início de nossa Era, dos árabes no século VII, dos portugueses no século XV.
Depois vieram os franceses que foram expulsos pelo lendário líder, o Sultão Mulay Ismail no século XVIII. No século XIX os franceses voltaram a se instalar no Marrocos, dividindo com os espanhóis o seu território.
Em 1930 o líder berbere Abdel Krim tenta libertar os seus pais do jugo estrangeiro, tendo mesmo proclamado a independência do país. Mas foi em seguida preso e exilado.
Modernamente a historia do Reino do Marrocos começou em 1947, sob a liderança do Sultão Sidi Muhammad, liderando uma rebelião que embora não sendo bem sucedida deixou, entretanto, na alma do povo o sentimento libertário.
Em 1955 Sidi Muhammad volta triunfalmente, assume a liderança do país e dois anos após proclama-se Rei do Marrocos sob o nome de Muhammad V.
Governou com austeridade e sabedoria, aproveitando os ensinamentos recebidos dos antigos colonizadores, aos quais se aliou para construir o progresso de sua nação.
Com sua morte, em 1961, o príncipe Hassan sobe ao trono com o nome de Hassan II.
Estadista lúcido, político habilidoso conseguiu construir no país um equilíbrio político a fim de promover a estabilidade equidistante entre o chamado mundo árabe e o Ocidente. Essa política de neutralidade resultou proveitosa incrementando a indústria e o comércio, desenvolvendo uma política internacional inteligente, melhorando o comércio exterior e um crescente turismo gerador de divisas...
Culto, promoveu o progresso das ciências, entre outros eventos no Instituto Pasteur de Casablanca, sob a direcção do competente cientista Dr. Abdala Benslimane
O progresso científico do Marrocos desenvolveu uma ciência médica bem avançada como se pode observar na criação do Instituto de Cirurgia Plástica Dr. Fahd Benslimane, o mais importante do país, rivalizando com seus congéneres da vizinha Europa...
Grande estadista, administrou com sabedoria o progresso de seu país, construiu estradas, criou riquezas, plantou trigo no deserto e construiu fábricas, explorou minérios e petróleo e justificou e aumentou em muito o esplendor desse encantado reino de mil e uma noites....
Em Julho de 1999 morreu o magnífico rei Hassan II após um reinado que durou cerca de 38 anos..
O sumptuoso enterro de Sua Majestade raramente teria sido igualado em nosso planeta. Mais de dois milhões de marroquinos prantearam a morte de seu Rei.
As orações dos ímãs subiram pelos minaretes das mesquitas de todo o país e ecoaram pelas ruas de Rabat, Casablanca, Marraquexe, Fez e todas as cidades do Reino e nas tortuosas ruelas das medinas, dentro e fora das ciclópicas muralhas das casbah, e até nos oásis distantes do deserto do Saará, muito além das muralhas naturais dos Montes Atlas...

A sumptuosa Mesquita do Rei Hassan II, debruçada sobre o Atlântico, em Casablanca, chorou no ritual da entrega a Alá da alma do grande Monarca...
Sobe ao trono o príncipe herdeiro, o filho mais velho de Hassan, Sidi Muhammad, cujo nome reverenciava o avô, com o nome de Muhammad VI...
Mais uma vez o Gibraltar e suas rochas olímpicas, os Montes Atlas e o deserto do Saará contemplam mais um capítulo da história desse fascinante país de mil e uma noites...
E nós que acompanhamos a heróica história desse povo valoroso, comemos do cuzcus com carne de carneiro em suas tigelas, caminhamos sobre os orgulhosos beduínos, ficamos rogando a Alá que abençoe o novo monarca, sua Majestade Muhammad VI.
Com certeza Sua Majestade tem um grande destino a ser cumprido, não somente no governo de seu povo, mas também na liderança geral dos povos árabes, repercutindo sua influência no destino de outras nações do chamado Primeiro mundo...
Tenho convicções de que esse incrível país não é apenas um Reino de Mil e uma noites... mas sim, uma poderosa nação.

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